terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

LITURGIA

ALGUMAS ORIENTAÇÕES PARA AS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS
19/05/2006GEN

De acordo com o artigo 20º, letras b) e c), do Estatuto do MCC aprovado pela CNBB, “ao Assessor Eclesiástico Nacional incumbe auxiliar a adaptação do Movimento de Cursilhos à Pastoral Orgânica da Igreja no Brasil e facilitar ao GEN o acesso às orientações da CNBB para atuação do Movimento em nível nacional”.
No cumprimento desse dever, durante todos estes anos de assessoria nacional, tenho procurado, até sob pena de ser etiquetado de intolerante e pelos meios possíveis (artigos, cartas e chamadas de atenção pessoais durante as celebrações, etc.), tornar presentes ao MCC aquelas orientações.

Ainda que grande parte das orientações aqui analisadas já estejam contempladas em prescrições litúrgicas no Missal Romano (de uso obrigatório para todos os católicos, sobretudo para os celebrantes da liturgia), algumas declarações de alguns Senhores Bispos, numa entrevista à imprensa no decorrer da última Assembléia Geral da CNBB (12/05/2006), propiciam-me preciosa oportunidade para lembrar vários pontos importantes no que se refere às celebrações e atos litúrgicos quer no todo do Movimento (Assembléias, Encontros, Retiros, Ultréias, etc.) quer, especialmente, durante a realização dos Cursilhos.

1. Carisma e adaptações celebrativas - Cada movimento ou comunidade eclesial tem seu carisma e seus objetivos e dispõe de meios próprios para alcançá-los.
Os do Movimento de Cursilhos não são o louvor, nem a organização de Grupos de Oração ou de outras iniciativas, sempre muito louváveis quando sintonizadas com o carisma do próprio movimento ou comunidade eclesial.
Há movimentos eclesiais com essa finalidade específica, que deve ser respeitada, mas não copiada, sobretudo se a cópia ou o plágio são devidos à falta de criatividade ou por terem caído no gosto deste ou daquele. Portanto, ainda que no MCC se dê importância vital à oração, não lhe compete tais iniciativas e nem participação nelas como movimento, isto é, de maneira oficial. Cada cursilhista o fará conforme seu desejo e opção pessoal.
Da mesma forma, a nenhum responsável, leigo ou sacerdote, é permitido transformar os Cursilhos em manifestações próprias, por exemplo, da Renovação Carismática ou de outros movimentos.
Isto vale, também, para os cânticos que, nos Cursilhos, devem servir para reforçar o conteúdo de cada mensagem.
A única língua ou voz que ali se interpreta, é a voz do Espírito Santo, através da eloqüência do querigma (anúncio da Boa Nova de Jesus, morto e ressuscitado, vivo entre nós) e dos testemunhos vivenciais de todos. Certa vez, durante o encerramento de um Cursilho, fui obrigado a interromper um cursilhista que, naquele momento, resolveu levantar-se para “falar em línguas”! Exceção? Pode ser.
Mas, sem dúvida, reflete uma mentalidade que se vai instalando ou já se instalou em muitos Grupos Executivos Diocesanos e na cabeça de muito Coordenador (a) ou Diretor Espiritual de Cursilhos.

2. O canto e sua pertinência – Em relação ao cuidado com os cantos durante as celebrações, D. Joviano de Lima Júnior, arcebispo de Ribeirão Preto (SP), também membro da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB destacou , naquela entrevista, que não se trata de “cantar na liturgia, mas cantar a liturgia”.
E explicou: “Isso significa cantar a partir dos textos litúrgicos.
Por exemplo, o Glória, que é um hino cristão da nossa tradição, ele tem a sua letra própria, e deve ser musicado conforme essa letra”.
Da mesma forma e por dedução lógica, o Credo, o Santo, o Pai Nosso, acrescento eu.

E pergunto, especificando: que direito nos assiste mudar, na celebração, a letra da oração que nos foi ensinada pelo próprio Cristo?
Se alguém quiser fazê-lo, faça-o para ser cantado fora da missa.
Alertou o Arcebispo para o fato de que não se trata simplesmente de critérios subjetivos na escolha dos cantos da missa:
“Se nós estamos na apresentação das oferendas, enquanto se colocam o pão e o vinho sobre a mesa do altar, há um canto que corresponde a esse gesto, que acompanha esses gestos.
Agora, se nós estamos na comunhão eucarística, o canto tem de nos lembrar da comunhão com Cristo, o significado da Eucaristia na minha vida, meu compromisso de cristão, e não um outro canto que lembre um santo ou a Virgem Maria”.
Como aconteceu na celebração que eu presidia no dia de Nossa Senhora de Fátima, quando a “animadora” não teve dúvidas.
Crendo piamente “honrar” a Nossa Senhora, na hora da comunhão puxou, bem chegada num explicável entusiasmo mariano, o “Engrandece minh’alma ao Senhor”! Ainda quanto ao canto na liturgia, o arcebispo advertiu para o problema de o canto não corresponder ao tempo litúrgico. “Se estamos no Natal -disse-, o canto tem de corresponder ao tempo de Natal. No Advento, corresponder ao Advento. Na Quaresma, à Quaresma”.

3. Comentários às leituras: é normal uma pequena intervenção antes de cada leitura. Seu objetivo é, apenas, o de chamar a atenção dos presentes para o foco do texto que vai ser proclamado. Importante é o texto – palavra de Deus - e não o comentário que dele se faz – palavra do homem - por mais “inspirado” seja.
Entretanto, alguns comentários são tão longos, tão chegados a “exortações” e explicações, que dispensariam até a leitura do próprio texto e, no caso do Evangelho, até a homilia.
Eu mesmo já estive, por várias vezes, diante de situações como essas hesitando entre dizer à assembléia que, com a introdução feita, já estava proclamada a homilia ou, testando a paciência do meu povo, proclamar a homilia que eu havia preparado!

4. O ritmo e a harmonia na celebração: nosso inesquecível amigo e irmão, Mons. Arnaldo Beltrami, costumava lembrar uma antiga tradição da Igreja primitiva segundo a qual as celebrações litúrgicas eram como que uma dança na qual cada um ocupa o seu lugar e dança conforme o ritmo. Numa dança, ou se observa o ritmo ou não é dança, cada um atropelando o desempenho do outro.
Na entrevista já citada, D.Joviano prosseguiu, dizendo: “Por outro lado, devem-se observar as normas da liturgia, porque a liturgia é um bem da Igreja e para toda Igreja.
Existem assim aspectos que, se não forem observados, quebram o próprio ritmo e até o significado da celebração”.
Um exemplo prático está na sucessão de leitores durante a liturgia da Palavra. Durante a introdução às leituras, o (a) leitor (a) já deveria estar postado ao lado do (a) comentarista para que não fosse tão demorado o intervalo entre os dois que a assembléia, naqueles instantes, já esteja distraída, olhando por todos os lados, quando não observando o empertigado “futuro” leitor que leva preciosos minutos desde que se levanta do seu lugar até que chegue à frente! É oportuno lembrar que estamos todos já acostumados com a TV: não existe qualquer intervalo entre uma mensagem e outra, pois o “intervalo vazio cansa o telespectador”. Resultado? Desliga a TV ou desliga-se da TV...
Assim também nas celebrações.
O Pe. Luiz Miguel Duarte, num opúsculo que recomendo vivamente , referindo-se à harmonia na celebração, assim se expressa:
“O bom resultado da celebração depende em grande parte do ritmo que a assembléia lhe confere”.

5. Partes exclusivas do presidente da assembléia - na avaliação final de uma de nossas Assembléias Nacionais, um dos participantes, referindo-se a uma observação minha durante uma das missas e na qual eu chamava a atenção sobre a oração final da liturgia eucarística (“Por Cristo, com Cristo...) como exclusiva do celebrante, afirmou, justificando, que “isso já entrou na cultura popular”.
A meu juízo, não há como admitir este tipo de afirmação, sem lembrar a responsabilidade de quem introduziu ou deixou acontecer tal aberração litúrgica. “A doxologia final da Oração eucarística (“Por Cristo...”) é proferida pelo celebrante principal sozinho ou por todos os concelebrantes com ele” (Missal Romano, 191).
À assembléia compete a aclamação, ou seja, o Amém final de assentimento, de manifestação publica da fé no mistério que acaba de ser realizado ali, sobre o altar.

6. Ruídos e gestos: Dom Manuel Francisco, presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB, na mesma entrevista aos jornalistas, recordou a importância que se tem de dar à questão da vida litúrgica dentro da Igreja, tanto por bispos e sacerdotes, como por religiosos, religiosas e leigos:
“Às vezes há uma liturgia alegre, envolvente, mas é só emocional e devocional, e as pessoas saem dali sem nenhum compromisso com o projeto de Jesus Cristo”, advertiu.
“O que se deve cuidar – esclareceu - é de se estabelecer um equilíbrio entre aquelas exigências da própria liturgia e a criatividade.
É necessário haver um pouco de criatividade, para que as celebrações sejam animadas e respondam às diversas assembléias, ou seja, se é uma assembléia de jovens, de adultos, de crianças, de idosos, de famílias”.
Cada participante de nossas celebrações teria inúmeras observações a fazer sobre que ruídos e gestos nos distraem a atenção, diminuindo a interesse por elas e, conseqüentemente, prejudicando a participação e o seu pleno aproveitamento.

7. O silencio sagrado, instrumentos musicais e seus excessos – acabo de chegar de uma missa para jovens.
O que eu trouxe de lá? Muita dor de cabeça, devido ao barulho ensurdecedor – é o mínimo que posso dizer daqueles instrumentos e daquela verdadeira algazarra durante a celebração – e muitas dúvidas a respeito dos seus frutos.
Então fico me perguntando: o que foi que “sobrou” para aqueles jovens?
Que mensagem concreta levam eles para suas vidas?
Uma vez que a “Liturgia não é apenas louvor, mas sim assumir o projeto de Jesus Cristo”, conforme afirmação de D. Manuel, que “compromisso com o projeto de Jesus Cristo” ou que projetos de vida lhes foram propostos através da celebração litúrgica deste domingo, nesta paróquia?
Que encontro com Deus e com o humano aconteceu nessa maneira de “celebrar” a Palavra e a Eucaristia?
Quanto ao silêncio sagrado, lembro que já fiz um artigo especialmente sobre o assunto: “Meu Senhor e meu Deus! Ou o silêncio sagrado”.
Entretanto, creio oportuno lembrar alguns pontos lembrados no opúsculo já citado: “Assinalo algumas razões para se fazer silêncio:

1ª: O silêncio é atitude de fé e reverência da assembléia litúrgica diante de Deus.
2ª: O silêncio oferece condições para a que a pessoa penetre mais profundamente o mistério que celebra.
3ª: O silêncio é meio para que ressoe no íntimo dos participantes a palavra de Deus, que os conforta e alimenta-lhes a esperança.
4ª: O silêncio leva a pessoa a reconhecer suas potencialidades e seus limites, por isso ela admite que tem muito a aprender de Deus e dos irmãos”.

Finalmente, ainda quanto ao silêncio, especialmente na Capela, durante os Cursilhos: em qualquer hora do dia, de maneira muito particular, pela manhã, quando deveria haver mais disposição para a oração, a Capela é lugar de recolhimento, de diálogo com Jesus presente no sacrário e, portanto, de profundo respeito e silêncio, e não de conversas em voz alta e, até, de risadas, como se o ambiente da Casa de Deus fosse igual ao de uma feira!
Como fecho, nenhuma palavra mais oportuna que a de D. Manuel Francisco: “A liturgia é o espelho da eclesiologia que se tem na cabeça, por parte do bispo e por parte de toda diocese, pois ela revela a genuína face da Igreja.
Daí o extremo cuidado com que tem de ser tratada”. Pe.José Gilberto BERALDOAssessor Eclesiástico Nacional do MCC

Site MCC-nACIONAL 06/06/2006
http://www.cursilhocg.com.br
CAMPO GRANDE - PARANÁ

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